Imaginem uma adolescente, quinze anos, a cabeça cheia de sonhos... Estuda, procura aprender o máximo porque este é o eu maior prazer. Assim sem falsa modéstia, se destaca não só na turma que cursa, como até no próprio colégio.
Dos professores recebe todo o apoio e admiração. E não são poucas as vezes que é chamada pelos mestres para substituí-los dando as aulas. Um dia recebe um convite: participar como escritora do jornal do bairro. Seria uma colaboração em uma coluna e ao mesmo tempo iria aprender toda a rotina de um pequeno jornal.
A felicidade foi tanta que ela não sabe como demonstrar e chora. Um choro de alegria de saber que poderia quem sabe realizar o sonho de ser uma jornalista... Mas há uma condição: Como é menor, seu pai terá que assinar um documento dando seu consentimento. Ela vai para casa construindo sonhos que não parecem ser para um futuro e sim de um presente bem próximo.
Conversa com a mãe, explica e observa que ela não tem o mesmo entusiasmo que ela...
_ Mãe você não está feliz?
_ Estou muito feliz, pois sei que esta é a sua felicidade, mas seu pai...
Assim ela fica ansiosa para que o pai chegue do trabalho.
Há um ritual que ela aprendera observando os costumes do pai. Para pedir alguma coisa para ele, é preciso esperar que ele encha o cachimbo de fumo e tire as suas baforadas ou lendo o jornal ou ouvindo o rádio.
Ela esperava ansiosa. Pega o documento e vai falar com ele. Calado ele escuta tudo o que ela diz. No final ela entrega o documento, ele olha, pega e rasga em muitos pedaços.
_ Filha minha não trabalha fora, mulher que trabalha fora não presta!
O dia cheio de sonhos felizes e a noite o pesadelo da ignorância, do mando sem barreiras, que destrói sonhose esperanças...
No outro dia toda envergonhada ela conta ao professor que se oferece para ir conversar com o pai, mas ela temendo mais represálias não aceita.
O tempo passa, chegam as provas finais e a nossa amiguinha tira os primeiros lugares e ganha além dos diplomas, a medalha de honra.
Desta vez é sua mãe que mostra ao marido a medalha e todas as recomendações dos mestres.
O pai diz apenas:
_ Este foi o último ano que ela estudou. Mulher não precisa estudar, afinal casa e leva o estudo para o fogão...
O mundo desaba, ela sente que vai morrer!
Sua mãe observa, tenta mudar aquela resolução, mas quem trabalha e paga as contas é o chefe da casa...
No outro dia, aquela dona de casa que é uma mistura de psicóloga, doutora em casos de difícil resolução, mas antes de tudo MÃE, sai em campo. Volta e diz à filha que parece uma flor murcha, sem perfume e sem vida:
_ Seu sonho não pode se realizar, mas se você quiser pode ajudar dois adolescentes a realizar os sonhos deles...
Conta que ali perto, num barracão, mora uma família que tem um menino de quinze anos e a irmã com quatorze anos que querem aprender a ler, mas não são registrados e assim nõ têm acesso à escola pública.
_ Minha filha, faça pelos outros o que eu não pude fazer por você...
Assim começam as aulas. Ela sente que está sendo útil e vê a alegria naqueles olhos que brilham quando conseguem juntar as sílabas e formar palavras.
E sem sentir com aqueles dois começa um longa etapa de vinte e três anos, dando aula, sem deixar de acompanhar turdo que se refere à cultura.
Aos sessenta e quatro anos ela ingressa no Projeto Tempo de Aprender do Programa Lext-Oesste. Afinal está numa faculdade e finalmente livre dos grilhões da obediência, se realiza. É feliz! É um pouco jornalista, escritora e nas horas vagas psicóloga...
Aí acontece a segunda escolha. Mantendo uma certa colaboração dque dava a uma entidade filantrópica, ela é instada a escolher entre a faculdade e continuar dando total assistência a esta outra situação.
É encostada na parede. Tem que escolher ou um ou outra. E sem titubiar ela responde:
_ No passado me tiraram a chance, Deus a colocou de maneira diversa no meu caminho. Desta vez eu sou livre para escolher... Eu fico com a faculdade.
E assim lá está ela. Não é nenhum curso objetivando diplomas, honrarias... Não, não é nada disso. É apenas uma maneira de viver feliz!
Agradeço ao professor Ney - o nosso coordenado, a todas as estagiárias que hoje na sua maioria são Assistentes Sociais e à Universidade Castelo Branco que me deu a segunda chance.
À todos que viveram momentos parecidos, um conselho: Nunca é tarde para realizar um sonho!
Dedico este trabalho à minha mãe, que de alguma estrela brilhante no céu, acompanha sua filha aqui na terra!
Zilma Pedroza.
RJ, 21/09/10.