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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Somos o "Projeto Tempo de Aprender", pertencemos ao Programa Lext-Oesste (Laboratório de Extensão-organização de experiências em Serviço Social, Trabalho e Educação). O Programa compõe a extensão Universitária da Universidade Castelo Branco - UCB, situada no bairro de Realengo - Rio de Janeiro/RJ. Somos o grupo da 3ª idade e acreditamos que o aprender está na troca de experiências e não se limita a um determinado tempo, pois é um movimento constante em nossas vidas. Esperamos que apreciem nosso blog com carinho, nele encontrarão um pouco do que realizamos no decorrer de nossas atividades a cada semestre, a cada aprendizado. Seja Bem Vindo(a)! Gratos!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O MEU PRÊMIO NOBEL

Voltando aos meus velhos tempos de estudante, que mergulhava direto na estória da Grécia, acompanhando as intrépidas aventuras de Ulisses, das guerras brigadas até mesmo pelo amor de belas Helenas, faço é claro guardando as devidas proporções um paralelo com minha própria estória. Nada de viagens através de mares bravios nem Odisséias vividas em lutas púmicas , mais sim a vontade de uma garotinha de quase ou nenhum recurso para conseguir um diploma de faculdade. Pobre, sem nenhuma perspectiva de conseguir chegar lá, mais com uma vontade que hoje com sessenta e sete anos, ainda percorre o caminho inigualável da cultura.
Hoje fazendo o projeto Lext-Oesste na Universidade Castelo Branco continuo absorvendo cultura através deste programa.
A luta foi igual a de milhares de brasileiros que brigam para ter um pouco de vivência num mundo melhor.
Com quatorze anos já estudava e dava aulas, tempos difíceis, mais ao mesmo tempo inigualáveis. Estudava numa escola rural nos confins de Campo Grande e pela distância os professores desistiam de nós alunos e só restou a diretora colocar a melhor aluna do colégio como professora de mais de quarenta e dois alunos. Dizem que em terra de cego quem tem olho é rei, e assim eu me realizava, passando para os meus colegas tudo que havia absorvido na terceira série. Como me sentia feliz passando para meus alunos o que havia aprendido em três anos de aula percorrendo os bancos escolares, sendo obrigada a repetir a terceira série por três anos, justamente pela desistência das mestras que começavam o ano letivo e depois de um ou de dois meses sumiam, então só restava a quem ficava sem professor se conformar e repetir tudo.
Era curioso ver uma menininha magrela ensinando a alunos bem mais velhos que ela, e conseguindo reger a turma como uma autêntica professora. A recompensa não se fez esperar, a diretora Dona Virgínia Gonçalves, passou a escrever a sua pequena mestra, em todos os concursos que se realizaram no antigo estado da Guanabara. A magrelinha não decepcionou e ganhava todos. Até que organizaram um concurso entre estado da Guanabara e estado do Rio. E mais uma vez, Dona Virgínia sorriu satisfeita. O primeiro lugar ficou com a Escola Rural Fernando Costa e sua pequena mestra foi agraciada com uma caderneta da Caixa Econômica e o título de Rotariana. A entrega dos prêmios foi feita no Teatro João Caetano e este é o único diploma que foi emoldurado e pendurado na sala. É o meu orgulho! Diploma de honra concedido pelo Rotary Club do Rio de Janeiro a mim.
Pela vida lutada e em muitos se assemelhando a Dom Quixote sem Sancho Pança e sem os moinhos de vento, mas sim, brigando pela cultura e pelo eterno aprendizado, sinto maior orgulho do referido diploma. A luta continuou e assim através do artigo noventa e nove na faculdade instituída pelo mestre Gilson Amado, em dois anos conquistamos o diploma do ginásio e do clássico. Por que fiz o clássico? Para fugir da matemática. Ela e eu não nos acertamos muito. E adorando o português, história e idiomas, a escolha não poderia ser outra
Falar mais sobre as dificuldades superadas seria cansativo mas impossibilitaria de fazer estudos normais, passei a dar aulas em minha casa. Quem disse que o rei estava morto? As aulas eram administradas numa salinha exígua, mas a falta de espaço era superado pela dedicação àquelas crianças tão necessitadas de carinho, paciência e incentivo. Assim alcancei a marca de quarenta e dois alunos. Havia briga entre mães para que seus filhos estudassem com a professorinha. Os anos passam vertiginosos. Eu me envolvi completamente com aqueles serzinhos tão ansiosos em aprender. Já com trinta anos comecei a pensar que por mim mesma eu não tinha feito nada... Assim me inscrevi no curso de digitadora no Liceu de artes e ofício, sem deixar as crianças fiz o curso e em quinze dias eu era mais uma digitadora no mundo novo da informática.
Corria o ano de 1972. Meu irmão me arranjou um estágio na firma na qual trabalhava, e aí eu tive que me desligar das crianças. Me desliguei ao aprendizado e no princípio foi difícil, afinal eu estava trocando a ingenuidade, o calor humano daquelas crianças para lidar com uma máquina fria e sem reações, sem o amor recíproco no qual eu estava acostumada. Enfim o salário ali era certo e eu fiz a minha escolha. Vinte e cinco anos de trabalho naquela firma, mais quatro anos de trabalho em outra e enfim a aposentadoria. Os estudos, o saber só através dos livros, jornais, televisão...
Aposentada comecei a colaborar com terceiras idades, lia textos, explicava, fazia teatrinho, esquetes com os idosos e assim fui levando, até que um dia fui convidada a presenciar um seminário na então Universidade Castelo Branco, e ao final eu estava certa que aquele seria o meu novo caminho.
E assim no próximo semestre eu era aluna do projeto Lext-Oesste, fui para a terceira idade e aqui estou há três anos. Já escrevi e encenei junto com os companheiros de turma duas peças, além de esquetes, textos escritos a apresentados por mim, nos quais eu incentivo a todos que vão nos nos assistir a não se entregar ao comodismo. A falta de vontade de agir e entregar com o nosso grupo e com outros, recebemos várias visitas inclusive a terceira idade do PAM de Bangu e da UNATI grupo da UERJ. É a sublime troca de experiência.
Quem visita o pequeno bairro de Vila Ieda e pergunta por Dona Zilma a professorinha, sempre encontrará alguém que passou pela minha escolinha. O tempo para mim não passou e sempre me revejo como aquela magrelinha da Escola Rural Fernando Costa que teve no dia treze de junho de mil novecentos e cinqüenta e quatro, a suprema honra de torna-se rotariana.
Hoje tenho a oportunidade de participar deste concurso, sei que participarão candidatos mais qualificados. Mas se este meu depoimento for lido e repassado para os jovens ou idosos que desistem fácil do seu sonho e possa servir de estímulo já estarei recompensada.
Esta é a minha vida que continuo a levar adiante agora na Universidade Castelo Branco como mais uma idosa a persistir no eterno aprendizado. Este será meu prêmio Nobel, saber que mais algumas pessoas tomarão conhecimento desta eterna batalha.
Persistir sempre, desanimar jamais!

Zilma Pedroza.


(Verônica Helena)
Dona Zilma participou com este trabalho do prêmio Talentos da Maturidade 2009, e este ficou entre os 20 melhores. Parabéns dona Zilma!

Link da página "Talentos da Maturidade", onde você pode encontrar o trabalho da dona Zilma e comentar.

http://www.talentosdamaturidade.com.br/galeria/detalhe/work/1612#coment

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